quinta-feira, 23 de junho de 2016

ACLAMAÇÕES LITÚRGICAS

[afeexplicada]


01 – Nos pontos mais importantes da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II destaca-se a redescoberta do povo de Deus como assembléia celebrante, reconhecendo o seu protagonismo na ação sagrada e cultual, tornando-a então sujeito da liturgia. “A participação na liturgia é parte integrante e constitutiva da própria ação litúrgica” (A. M. Triacca). Por isso, uma celebração sem a participação do povo jamais pode ser uma celebração viva, exceto aquela em que, por circunstância especial, o sacerdote só pode celebrar sozinho, hipótese em que são omitidas as saudações, as exortações e a bênção no final da missa (cf. IGMR nº 254). Mas – entendamos – mesmo sendo privada, essa missa tem também dimensão comunitária e eclesial.
02 – A liturgia, por sua natureza, é estruturada em linha hierárquica, dados os diversos ministérios dos membros da assembléia celebrante, estes sempre a serviço da liturgia. Nesse sentido, o Concílio Vaticano II vai dizer: “Por isso, os sagrados pastores devem vigiar que na ação litúrgica não só sejam observadas as leis para a celebração válida e lícita, mas ainda que os fiéis nela tomem parte de maneira consciente, ativa e frutuosa” (cf. SC 11), participação aqui então entendida na linha sacramental e, por isso mesmo, mistagógica.
03 – Neste trabalho, dentre as diversas formas de participação que acontece em toda a celebração, queremos destacar as aclamações litúrgicas, ora com seu sentido de bendição, ora de exaltação, ora de júbilo universal, como ainda de ação de graças, de súplica e de acolhida. Vejamos então as aclamações nos diversos momentos da celebração eucarística:

Nos Ritos Iniciais

04 – Como resposta à saudação inicial do presidente, a assembléia vai aclamar: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!”, e aqui devemos notar três elementos fundamentais: a) Trata-se de aclamação bendizente, e o bendizer é próprio da oração litúrgica, como herdamos da tradição judaica; b) Que somos reunidos por Deus, chamados por ele de nossa dispersão, como outrora, através de Moisés, convocou o povo de Israel para as grandes assembléias do deserto (cf. Ex 19 e Js 24). Portanto, trata-se de iniciativa de Deus e não de mérito nosso; e c) Que a reunião, que agora se efetiva, faz-se no amor de Cristo, o que, desde o início, já supõe um clima de amor fraterno e de igualdade. Na liturgia, com essa aclamação dos fiéis, dá-se por constituída a assembléia celebrante.
05 – Ainda nos ritos iniciais, vamos ter o canto do “Senhor, tende piedade” (Kyrie eleison), que é, ao mesmo tempo, de aclamação ao Senhor e de súplica de sua misericórdia (cf. IGMR nº 52).

Na Liturgia da Palavra

06 – O canto de aclamação, que antecede imediatamente o Evangelho, é uma aclamação de acolhida e de saudação ao Senhor pela assembléia. O ideal é que essa aclamação seja sempre constituída do Aleluia e de um versículo do Evangelho, omitindo-se na Quaresma o Aleluia. Quando não cantado, pode ser omitido (cf. IGMR nº 62 e 63c). Em resposta ao diácono ou ao sacerdote, no início (“Proclamação do evangelho de NSJC segundo…), e no fim (“Palavra da salvação!”), os fiéis aclamam “Glória a vós, Senhor!” (cf. IGMR nº 175).

Na Liturgia Eucarística

07 – Também na preparação e apresentação dos dons, há uma aclamação bendizente da assembléia quando o presidente recita em voz alta a oração prescrita, também bendizente: “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão… Bendito sejais pelo vinho…”, a que os fiéis respondem, aclamando: “Bendito seja Deus para sempre!” (cf. IGMR nº 142).
08 – Uma grande aclamação está presente no início da Oração Eucarística, após o Prefácio: é o Santo, entendida também na liturgia como aclamação universal. É cantada por todo o povo e pelo sacerdote. Mais propriamente nesse momento, a assembléia terrestre se une aos espíritos celestes, em liturgia única, aclamando o nosso Deus, três vezes santo, como proclamam os serafins. Também os querubins estão vivamente presentes nessa aclamação com as suas bendições, nela também presentes os santos e nossos defuntos. Na compreensão litúrgica, aqui se fazem presentes as três dimensões da Igreja: Peregrina ou militante, padecente ou de purgação, e triunfante ou gloriosa. A aclamação do Santo encontra sua fundamentação bíblica em Is 6, 3; Ez 3, 12; Ap 4, 8; Sl 118[117], 26; e Mt 21, 9). Como se vê, trata-se de uma aclamação de profundo sentido teológico, bíblico e litúrgico, o que exige de todos mais zelo em sua proclamação litúrgica.
09 – Durante a Oração Eucarística, e variando de acordo com cada uma, estão as aclamações dos fiéis, como plena participação litúrgica. São elas colocadas na mesma temática do momento literário e teológico da Oração Eucarística, devendo então ser rezadas ou cantadas pelos fiéis na mesma tonalidade em que é recitada pelo sacerdote. Dentre essas aclamações, destaca-se a aclamação memorial após o “Eis o mistério da fé!”, nas três propostas da liturgia: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte…”, “Todas as vezes que comemos deste pão…” e “Salvador do mundo, salvai-nos…”. Dentre as três, destaca-se ainda a primeira, não só por seu valor anamnético (memória do sacrifício da cruz), como pela proclamação da ressurreição no “hoje” da liturgia e de nossa vida, e ainda pelo seu conteúdo de fundo escatológico: “Vinde, Senhor Jesus!”
10 – Se o Amém das quatro orações presidenciais, além de ser conclusivo e de ratificação pela assembléia, tornando sua a oração, é também aclamativo segundo o Missal (cf. IGMR nº 127, 146, 151 e 165), muito mais aclamativo é então o Amém após a Doxologia final (“Por Cristo, com Cristo e em Cristo…”), chamado, por isso, de “grande Amém”, pois a Oração Eucarística é a mais importante oração presidencial, e o Amém que a conclui ratifica, com mais firmeza litúrgica, todo o seu conteúdo, tornando a anáfora mais ainda oração de toda a assembléia celebrante. Nesse sentido, deve distinguir-se, em solenidade, de qualquer outro Amém da celebração eucarística.

Nos ritos de comunhão

11 – Se o “Pai Nosso” é rezado por todos, o embolismo (“Livrai-nos de todos os males, ó Pai,…”) é acrescentado só pelo sacerdote, e o povo vai concluí-lo com uma aclamação doxológica, isto é, de louvor: “Vosso é o reino, o poder e a glória para sempre!”, aclamação que herdamos da igreja primitiva (cf. Didaqué 9, 4).

Fontes Bibliográficas:

– IGMR – Instrução Geral sobre o Missal Romano
– Missal Dominical da Assembléia Cristã
– Dicionário de Liturgia (Paulus)
– Didaqué (Catecismo dos primeiros cristãos)

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