sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Você comungaria sabendo que a hóstia foi produzida pelas mãos de um homicida condenado?


102º Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado: elementos “bombásticos” que poderão “escandalizar” quem insiste num catolicismo de fachada

 


No próximo dia 17 de janeiro, 5.000 migrantes vão atravessar a Porta Santa da Basílica de São Pedro acompanhando a Cruz de Lampedusa, um ícone feito de pedaços de madeira retirados de embarcações nas quais milhares de refugiados se aventuraram pelo Mar Mediterrâneo na desesperada tentativa de chegar a países onde pudessem ter esperança de dignidade. O nome da cruz vem da ilha de Lampedusa, o primeiro destino de uma viagem pastoral do papa Francisco: trata-se da ilha italiana que se tornou símbolo da crise migratória antes mesmo da sua explosão midiática, ao receber um fluxo imparável de refugiados – ou de cadáveres de refugiados mortos na pavorosa travessia.
17 de janeiro é a data da 102º Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, uma iniciativa realizada pelo Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, cujo tema deste ano, escolhido pelo papa Francisco, é “Migrantes e refugiados nos desafiam: a resposta do Evangelho da misericórdia”.
A celebração eucarística dessa jornada será presidida pelo cardeal Antonio Maria Vegliò, presidente desse Conselho Pontifício. As hóstias que o cardeal Vegliò vai consagrar para a comunhão dessa missa serão preparadas por três detentos de Opera, um presídio italiano de segurança máxima no qual cumprem pena pelo crime de homicídio.
Os três homicidas estão trilhando em Opera o seu percurso pessoal de conscientização e redenção, ajudados pelos sacerdotes que trabalham na pastoral carcerária. Arnoldo Mondadori, fundador da Casa do Espírito e das Artes, uma das instituições parceiras na concepção e na realização desta iniciativa, declara: “As hóstias, que nascem das mãos de quem já matou e que serão consagradas na Basílica de São Pedro, testemunham que a necessidade de ser salvos pelo amor de Cristo é uma necessidade de todos os homens, não apenas daqueles que estão cumprindo uma sentença de prisão e que, muitas vezes, já atingiram uma profunda consciência dos seus erros”.
A 102º Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado contém uma série de elementos “bombásticos”, capazes de “escandalizar” quem insiste num catolicismo de fachada, numa religiosidade apenas ritualística, farisaica e “cultural”, do tipo que filtra mosquitos e traga camelos, priorizando exterioridades enquanto deixa de lado a essência do cristianismo: o próprio Cristo, amigo de publicanos e prostitutas, nascido na miséria, refugiado em terra estrangeira, pregador do perdão, da misericórdia e da reconciliação, mártir para salvar não os bons, mas os maus. Inclusive os maus que se dizem católicos; inclusive os maus que se acham bons ao tacharem com seus rótulos ideológicos aqueles que, enxergando além da estética, priorizam a essência. Como Francisco, o pouco estético papa do fim do mundo.

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