terça-feira, 18 de setembro de 2018

Ser cristão em tempo de eleição

Por Tânia da Silva Mayer

O mundo e as sociedades não podem ser realidades indiferentes para os seguidores e seguidoras de Jesus.



Ser cristão ao modo de Jesus não é tarefa muito fácil em nossos dias. Aliás, para corresponder às exigências do seguimento e do discipulado são necessárias perseverança e coragem. Na contramão das convenções mundanas, a capacidade de não desistir nunca e de cultivar esperança e ânimo para avançar na luta por outra realidade mais humana é fundamental para confirmar o ser cristão em tempos de desânimo e ódio. Por isso, a necessária contribuição que os cristãos e as cristãs podem oferecer ao mundo imerso numa crise de humanidade é a crença de que a vida vale a pena e de que é preciso ter esperança de que as coisas podem e vão melhorar.
Logicamente, essa esperança não é iludida, mas consciente de que são imprescindíveis uma leitura do mundo, o envolvimento com suas realidades difíceis e uma conversão de postura que fomentem a transformação de tudo que nos distancie de uma vida de paz.
Uma tentação que sempre nos rodeia é a da apatia que nos tornam insensíveis e indiferentes às questões que dizem respeito a todos nós, porque direta ou indiretamente nos afetam. Por sua vez, a apatia promove certo comodismo que nos autoriza a não nos envolvermos no processo direto de transformação da realidade. Nesses tempos duros de eleições no Brasil, muitas pessoas, entre elas as cristãs, afirmam que não irão às urnas em outubro no exercício de uma das diversas faces da cidadania. Essas pessoas deixaram de acreditar que outro mundo é possível e entraram num estado tal de indiferença que não querem mais contribuir com aquilo que acreditam ser melhor para o nosso país. Não se trata de medo de errar nas escolhas, mas de considerarem que todos os problemas que temos não os dizem respeito. E isso é um engano. É muito mais cômodo deixar nas mãos de outros a possibilidade da mudança que assumir parte da responsabilidade que é de todos nós.
Ir às urnas para votar é exercício pleno da cidadania brasileira e disso não podemos abrir mão. Mas exercer o voto num processo eleitoral torna-se também uma tarefa para os cristãos e cristãs. O mundo e as sociedades não podem ser realidades indiferentes para os seguidores e seguidoras de Jesus. O Evangelho narra a história de um Deus que se envolve conosco em nossa história não se eximindo das nossas questões e problemas. E a Encarnação comprova isso. Por isso, os fiéis cristãos devem cultivar a mesma postura condescendente para com a sociedade brasileira. É preciso se encarnar na luta dos milhões de brasileiros que não edificam muros quando o assunto é a construção de um Brasil igualitário e feliz para todos. É preciso superar a indiferença e, sobretudo, eliminar a tristeza e a desesperança que tomou conta dos corações. É preciso também superar o ódio e exercer o direito e o dever do voto como uma atitude de amor, porque preocupada e comprometida com o bem de todos os brasileiros e brasileiras. Concorre a essa postura outra que não elege candidatos por pertencerem a determinada religião ou movimento religioso, mas pelo compromisso de fazer desse país um lugar melhor para todas as pessoas viverem.


*Tânia da Silva Mayer é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail: taniamayer.palavra@gmail.com. 

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