domingo, 11 de dezembro de 2016

Reconhecer o Messias

[domtotal]
Por Por Ana Maria Casarotti


Jesus tem compaixão pelas pessoas, as perdoa e anuncia o Reino de Deus para todos e todas que o ouvem. Comentário ao Evangelho de Mateus 11, 2-12.


Somos chamados a seguir o caminho de Cristo. (Divulgação)

Comentário ao Evangelho de Mateus 11, 2-12. (Correspondente ao 3º Domingo de Advento, ciclo A do Ano Litúrgico).
João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras do Messias, enviou a ele alguns discípulos, para lhe perguntarem: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?». Jesus respondeu: «Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia. E feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!»
Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões a respeito de João: «O que é que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que vocês foram ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas aqueles que vestem roupas finas moram em palácios de reis. Então, o que é que vocês foram ver? Um profeta? Eu lhes afirmo que sim: alguém que é mais do que um profeta. É de João que a Escritura diz: "Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’. Eu garanto a vocês: de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino do Céu é maior do que ele. 
Herodes tinha encerrado João Batista numa masmorra. A mensagem que ele proclamava e o convite à conversão eram uma exortação que incomodava bastante aqueles que atuavam hipocritamente, compondo uma sociedade que explorava os mais pobres, carentes e todos e todas os que eram rejeitados.
A pregação de João Batista, assim como a dos profetas, incomodou, e ainda continua perturbando, todas e todos aqueles que não colaboram na construção de uma comunidade mais justa e mais fraterna.
Por causa disso, as pessoas que estão no poder fazem até o inimaginável para que esse profeta “desapareça” e sua presença seja eliminada. O destino de João Batista é um elo desta corrente.
Assim denuncia o Papa Francisco esta opressão da humanidade: “Quem acumula riquezas com exploração, com trabalho não pago devidamente, com contratos injustos, é um sanguessuga que escraviza o povo”. “O sangue de quem é explorado no trabalho - afirmou Bergoglio – é um grito por justiça ao Senhor. A exploração do trabalho, nova escravidão, é um pecado mortal. As riquezas em si mesmas são boas, mas são relativas. São colocadas no justo lugar. Não se pode viver para as riquezas. É mais importante um copo d’água em nome de Jesus do que todas as riquezas acumuladas com a exploração do povo”. (Cfr. “Quem se enriquece com exploração e trabalho não pago devidamente é um sanguessuga que escraviza o povo”, afirma Francisco)Voltando à narrativa do Evangelho, percebemos que além de estar no cárcere, ainda alguns seguem João Batista, e por isso, no texto, e em diferentes momentos dos Evangelhos, são chamados “seus discípulos”.
Apesar de ouvir falar das obras do Messias, ainda não está totalmente convencido de que “essa pessoa” é realmente o Messias que devia chegar para libertá-los. Ele tinha outra expectativa na chegada do Messias.

Como era o Messias que ele aguardava?

Nele há outra esperança, na sua pregação, sobre aquele que viria: “Ele terá na mão uma pá: vai limpar sua eira, e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga.”  (Mt 3, 11-12)
Jesus atua de forma totalmente diferente: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia”. Jesus não condena e não exige um cumprimento estrito de práticas religiosas. Pelo contrário, ele tem compaixão pelas pessoas, as perdoa e anuncia o Reino de Deus para todos e todas que o ouvem.Jesus mora junto com o povo, está no meio do povo, não fica no deserto como acontecia com João Batista. Seu alimento não são gafanhotos e mel silvestre. Jesus celebra, participa das comidas das pessoas.
Ele não responde a pergunta de João sobre sua identidade, mas se apresenta com suas obras. Isso faz com que João fique até “escandalizado”. Convida-o a contemplá-las e a acreditar na sua pessoa como “aquele que viria”, aquele que foi anunciado pelos profetas. Em Jesus realiza-se esse anúncio de salvação.Podemos perguntar-nos: por que a Igreja nos apresenta este texto no tempo de Advento? Qual é a relação com nossa vida? Se sondarmos um pouco mais, percebemos que a pergunta que João fez está no interior de toda pessoa que tenta viver sua fé com autenticidade. Será “ele” o Messias?
Mas esta oscilação geralmente fica encoberta por uma fé superficial que não demanda muito e é respondida com o cumprimento de algumas normas.As crianças geralmente nos apresentam este tipo de pergunta e para elas não é suficiente uma resposta “formal”. Desejam entender, não só saber uma frase. Mas quem é Jesus? E por que é considerado “Salvador”? Que significa isto?
Por isso, hoje, a dúvida de João convida-nos a dirigir ao Senhor nossos questionamentos, incertezas, inseguranças.Os discípulos são apresentados como pessoas que duvidam da identidade de seu Mestre. Lembremos Pedro e os discípulos/as quando estão no centro da tormenta no mar e veem aparecer um “fantasma” caminhando sobre as águas. Quando Jesus convida Pedro para ir ao seu encontro caminhando no mar, ele acredita no seu convite, mas logo se deixa possuir pelo medo e começa a afogar-se.
Temos também o exemplo dos discípulos de Emaús. Sabem tudo mas não acreditam na pessoa de Jesus e por isso, apesar de estar caminhando com ele, não o reconhecem.Neste Terceiro Domingo somos chamados a acrescentar nossa sensibilidade para com tantas pessoas necessitadas e seguir seu caminho. Realizar suas obras leva consigo uma revelação, que é o reconhecimento progressivo de Jesus como o Enviado do Pai, o Messias.
Como pede Francisco, peçamos ter sensibilidade para: Chorar pela injustiça, chorar pela degradação, chorar pela opressão. São as lágrimas que podem dar passagem à transformação, são as lágrimas que podem abrandar o coração, são as lágrimas que podem purificar o olhar e ajudar a ver o círculo de pecado no qual, muitas vezes, se está submergido. São as lágrimas que conseguem sensibilizar o olhar e a atitude endurecida e, especialmente, adormecida diante do sofrimento alheio. São as lágrimas que podem gerar uma ruptura capaz de nos abrir à conversão”. (Cfr O grito do Papa pelos migrantes: “Não mais morte, nem exploração!”)

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