segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Os milagres, sinais do Reino

[domtotal]
Por Felipe Magalhães*


Uma fé que se sustenta apenas pelos sinais, não é uma fé autêntica. É preciso crer naquilo que Jesus diz e faz, confiando a vida no Reino que ele anuncia.

 

Cardel de Nápoles mostra a ampola que contém o sangue de São Januário. (AFP)

Jesus, em sua vida, realizava atos de poder: dava vista aos cegos, curava os coxos, expulsava demônios, alimentava os famintos, tal como nos mostram os evangelhos. Tudo isso era sinal do Reino que ele anunciava. Socorrendo os empobrecidos, em suas dificuldades, trazia o Reino para perto. “[...] João, então, chamou dois [discípulos] e os enviou ao Senhor, para perguntar:
‘És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?’ Eles foram ter com Jesus e disseram: ‘João Batista nos mandou a ti para perguntar se tu és aquele que há de vir ou se devemos esperar outro’. Naquela ocasião, Jesus havia curado a muitos de suas doenças, moléstias e espíritos malignos, e proporcionando a vista a muitos cegos. Respondeu, pois: ‘Ide contar a João o que vistes e ouvistes: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito’” (Lc 7,18b-23).
As ações portentosas de Jesus, nunca desligadas daquilo que anunciava, eram o sinal da efetividade do Reino junto às pessoas. É justamente aquilo que fazia e falava que revelava sua missão: era, de fato, o Cristo, isto é, o Ungido enviado por Deus, para realizar no mundo o seu Reino. Os chamados milagres, então, nunca estão fora do contexto do Reino, que é situação de graça na vida de homens e mulheres, sobretudo na vida dos empobrecidos. Os sinais, que despertavam a admiração dos homens e mulheres contemporâneos a Jesus, estavam a serviço da evangelização, isto é: inserir os sujeitos históricos na dinâmica do Reino.
Os atos de poder realizados por Jesus, e também por seus discípulos, eram convite à fé. Fé nesse Reino que traz vida nova e condições de dignificação da pessoa. Jesus não precisava provar nada a ninguém, isso não fazia parte de sua missão. Revelando o Reino, inseria as pessoas nele, convidando-as a fiarem-se no Deus que dá esse Reino. É por isso que Jesus inverteu a lógica da multidão, quando ela pediu a ele sinais, para que pudesse crer nele, isso logo depois de ter multiplicado os pães (cf. Jo 6,30-35). Uma fé que se sustenta apenas pelos sinais, não é uma fé autêntica. É preciso crer naquilo que Jesus diz e faz, confiando a vida no Reino que ele anuncia. Isso porque ele foi enviado pelo próprio Deus. Milagres, insisto, são convite à fé e não condição para que haja a fé.
Trago esse tema dos milagres, por ocasião da não liquefação do sangue, no chamado milagre de São Januário. Todos os anos, em três ocasiões, o sangue seco da relíquia se liquefaz, o que não aconteceu, neste ano, no dia 16 de dezembro. Olhando para ocasiões anteriores, em que o sangue não se liquefez, associaram que tragicidades nos anos seguintes estavam enunciadas na não liquefação do sangue. Logo, o próximo ano que se avizinha promete carregar coisas muito ruins. Essa é a percepção de quem não compreendeu que, se de fato um sinal é dado por Deus, ele aponta para o Reino.
Interpretar, portanto, que o acontecido é previsão de tragédias que se avizinham, é não confiar na graça de Deus, que dá os seus sinais para nutrir em nós a esperança, e não o contrário disso. Que coisas difíceis acontecerão no ano seguinte, é certo que sim, afinal, o sofrimento faz parte de nossa história frágil e marcada pelos traços do anti-Reino. Mas os milagres de fato acontecem, e nos inspiram esperança de que Deus é conosco e que a salvação, pelo Reino, está próxima. Estejamos atentos, pois, aos milagres cotidianos que nos revelam o cuidado amoroso de Deus, e que nos inspiram a fé.
A todos e todas, desejo que 2017 seja um ano que agrade ao Senhor Deus, que tanto nos quer bem! Feliz ano bom!

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras. E-mail para contato: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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