terça-feira, 9 de agosto de 2016

Passo ousado na demolição da Igreja

[abim]
Por Revista Catolicismo, Nº 788, Agosto/2016

Não é preciso dizer como vai adiantado o processo de autodemolição da Igreja, referido pelo Papa Paulo VI. A “fumaça de Satanás”, que o mesmo Pontífice constatou ter penetrado no templo de Deus, vai sufocando os católicos do mundo inteiro.
Sob a designação de “progressismo”, esse processo infernal demole a cada dia uma parte da Igreja: um costume milenar que é contrariado, um aspecto capital da liturgia que é substituído, a moral que é conspurcada, uma prática diplomática que conduz à derrota do bem, uma doutrina que é silenciada hoje para ser negada amanhã, e assim por diante.
Recentemente, não foi uma parte da muralha que caiu; tomou corpo uma investida que busca abalar a própria noção da indivisibilidade da Cátedra de Pedro, questionando a palavra unitiva de Nosso Senhor: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).
“Não prevalecerão”! É absolutamente certo, como certa é a palavra de Deus. Mas até onde podem ser abaladas as noções fundamentais do Papado, antes que uma intervenção divina ponha cobro a tantos desvarios e pecados?
Autodemolição da IgrejaEstas considerações nos fazem medir melhor o alcance apocalíptico das palavras do arcebispo Dom Georg Gänswein [foto], durante anos secretário particular do Papa Bento XVI [foto à esq.] e atualmente Prefeito da Casa Pontifícia. Ele foi porta-voz de um lance recente e espantoso na propulsão desse processo de demolição que faz Nossa Senhora chorar, lance esse que busca agora atingir a própria noção de indivisibilidade do Papado, falando-nos de um Papado “expandido”.
Para resumir, transcrevemos o rápido apanhado feito a respeito do tema pelo professor e historiador italiano Roberto de Mattei:
Autodemolição da Igreja“No auditório da Pontifícia Universidade Gregoriana, Mons. Georg Gänswein enfatizou o ato de renúncia do Papa Ratzinger ao pontificado com estas palavras: ‘A partir de 11 de fevereiro de 2013 o ministério papal não é mais aquele de antes. Ele continua a ser o fundamento da Igreja Católica; e, entretanto, é um fundamento que Bento XVI transformou profunda e duravelmente no seu pontificado de exceção’.
“De acordo com o arcebispo Gänswein, a renúncia do Papa teólogo introduziu na Igreja Católica a nova instituição do ‘Papa emérito’, transformando o conceito de munus petrinum (ministério petrino): ‘Antes e depois de sua renúncia, Bento entendeu e ainda entende seu dever como uma participação em tal ministério petrino. Ele deixou o trono pontifício e, entretanto, não abandonou absolutamente esse ministério. Em vez disso, integrou o ofício pessoal com uma dimensão colegial e sinodal, quase um ministério em comum [...]. Desde a eleição de seu sucessor Francisco, em 13 de março de 2013, não há portanto dois Papas, mas de fato um ministério expandido [allargatto] — com um membro ativo e um membro contemplativo. É por isso que Bento XVI não renunciou nem ao seu nome, nem à batina branca. Por isso o tratamento correto que se lhe aplica ainda hoje é Santidade; é também por isso que ele não se retirou para um mosteiro isolado, mas permaneceu dentro do Vaticano — como se tivesse dado apenas um passo de lado para abrir espaço ao seu sucessor e a uma nova etapa na história do papado’.
Autodemolição da Igreja
“Este arrazoado tem um caráter perturbador, demonstrando por si só como estamos não ‘além’, mas mais do que nunca ‘dentro’ da crise da Igreja. O Papado não é um ministério que pode ser ‘expandido’, porque é um ‘cargo’ concedido pessoalmente por Jesus Cristo a um único Vigário e a um único sucessor de Pedro. [...] O discurso de Mons. Gänswein, que não se entende aonde quer chegar, sugere uma Igreja bicéfala e acrescenta confusão a uma situação já demasiadamente confusa” (“A crise da Igreja à luz do Segredo de Fátima”, in “Corrispondenza Romana”, 25-5-16).

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