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E, como as abelhas, "tem mel nos lábios, mas traz oculto o aguilhão"
Há muitos anos, numa grande exposição de pinturas, realizada em
Londres, um artista apresentou um quadro que lhe deu farta notoriedade.
Quem observasse a pintura de relance tinha impressão de que ela
representava um homem de fisionomia serena, ajoelhado, tranquilo, em
atitude de prece, as mãos postas e a cabeça baixa.
Aproximando-se, porém, da tela, e procurando distinguir bem os traços
do indivíduo, verificava-se, com espanto, que o artista, graças a um
artifício inimitável, fixara um homem de rosto irascível, que espremia
um limão dentro de um copo. O genial pintor conseguira, naquela arrojada
fantasia, simbolizar o coração do hipócrita.
Na verdade, superficialmente examinado, o hipócrita surge aos nossos
olhos como um indivíduo piedoso, os olhos voltados para Deus; mas tudo
nele é falso. Quando não finge piedade, outra coisa não faz senão
espremer no copo do vício o limão do pecado.
Os hipócritas não servem a Deus; servem-se, porém, de Deus, para enganar os homens.
O hipócrita é um santo pintado: tem as mãos postas, mas não ora; o livro diante dos olhos, mas não lê.
O pior dos homens é aquele que, sendo mau, quer passar por bom; sendo infame, gaba-se de virtude e pundonor.
A cartilha dos maldizentes foi sempre hipocrisia. O hipócrita, como as abelhas, tem mel nos lábios, mas traz oculto o aguilhão.
Se o mundo despreza o hipócrita, o que pensarão dele no céu?
Devemos, em todo momento, fugir do hipócrita e do falso amigo.
Um falso amigo, semelhante a um homem perverso, é mais perigoso que
um fabricante de moeda falsa: este faz mal aos nossos bens de fortuna,
aquele nos expõe a mil desgraças em tudo que nos diz respeito. Quem
encontra um falso amigo cai na maior desgraça, tanto mais lamentável
quanto é por nós menos conhecido.
Um sábio da antiguidade costumava dizer: “Dos meus inimigos defendo-me eu mesmo; dos falsos amigos, porém, só Deus me poderá defender”.
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Das “Lendas do Céu e da Terra”, de Malba Tahan
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