sexta-feira, 6 de maio de 2016

Prefeito da Doutrina da Fé nega a possibilidade de comunhão aos divorciados recasados


Afirma que é “uma bobagem” dizer que está contra o Papa, mas, em suas declarações, o cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Doutrina da Fé, sustenta, ao contrário de Francisco, que os divorciados em segunda união não podem ter acesso à comunhão sacramental e que a infalibilidade não pode ser questionada, assim como faz o ‘herege’ Hans Küng, que “não acredita na divindade de Cristo, nem na Trindade”.
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 03-05-2016. A tradução é do Cepat.
O purpurado alemão esteve em Madri, na Francisco de Vitória, a Universidade dos Legionários de Cristo, para apresentar seu último livro-entrevista, ‘Informe sobre a esperança’, e dar uma conferência. Amparado por alguns dos seus na Espanha, como o cardeal Rouco, o bispo de Alcalá, Juan Antonio Reig, e os bispos auxiliares de Getafe e Madri, Rico Pavés e Martínez Camino.
Antes, em uma concorrida coletiva de imprensa, o ‘guardião da ortodoxia’ sustentou, contra o que o Papa mantém na exortação pós-sinodal ‘Amoris Laetitia’, que os divorciados em segunda união não podem se aproximar, em hipótese alguma, da comunhão sacramental e o máximo que podem aspirar, após se confessar, é viver “como irmãos”.
Com linguagem e maneiras suaves, mas de forma muito dura, o purpurado alemão rejeitou, categoricamente, a porta que a ‘Amoris Laetitia’ abre aos divorciados recasados, entre outras coisas, porque “não é possível viver na graça de Deus em condições objetivas de pecado”.
Müller sustenta que “é uma contradição” estar divorciado e querer comungar e, como é algo que pertence ao direito divino, não ao canônico, “nem a Igreja, nem Papa algum pode mudá-lo”. É que “o matrimônio é um sacramento e a Igreja não pode mudar os elementos básicos dos sacramentos”, assim como também não se pode “aceitar uma segunda esposa, se o matrimônio é válido”. E conclui: “Não se pode dizer sim a Jesus Cristo na eucaristia e não no matrimônio. É uma contradição objetiva”.
Por isso, “as interpretações que extrapolam o dogma da Igreja são falsas” e, por isso, o Papa Francisco, em sua exortação pós-sinodal, não quis fazer “interpretações ex cathedra”, porque “todos os elementos estão dogmatizados” e “nem o Papa pode mudá-los”.
A única saída pastoral que permanece para os divorciados em segunda união, que, portanto, vivem em situação irregular, mas querem se aproximar da Igreja, é dupla.
Primeiro, “separar-se do legítimo esposo, se podem”, ou viver junto com o novo esposo, mas em castidade perfeita, ou seja, “como irmãos”, porque “nunca se pode justificar uma situação que vai contra a lei divina”.
Hans Küng, o herege
Tampouco o prefeito da comunga muito com as imagens que o Papa utiliza sobre a Igreja, como a de “hospital de campanha”. Ele prefere as imagens da Igreja clássicas, como casa de Deus ou povo de Deus, ainda que aceite que Francisco, que é um Papa pastoral, também tenha o direito de utilizar essas imagens “pedagógicas”, mas sempre que não sejam equiparadas às clássicas.
E já postos a criticar o Papa, o cardeal alemão jogou por terra a última aproximação entre Francisco e o teólogo suíço Hans Küng, ao qual, em uma carta pessoal, Bergoglio acaba de dizer que seria positivo abrir o tema da infalibilidade e colocá-la em debate na Igreja.
Müller se dedicou a criticar o teólogo suíço, sobre o qual disse que “não só criticou os Papas como pessoas, mas também a instituição” e o chamou de herege em toda regra.
Primeiro, porque “nem sua cristologia, nem sua eclesiologia são católicas”. E, além disso, “não acredita na divindade de Cristo, nem na Santíssima Trindade”.
Em segundo lugar, Müller, após destacar que “a infalibilidade é um dogma, um tesouro e a essência da eclesiologia católica”, arremeteu de novo contra Hans Küng: “Não pode dizer que se sente justificado pelo Papa”.
E para superabundar em sua argumentação, fez a distinção que nele é clássica, há tempo, entre um Papa teólogo como Bento XVI e um Papa pastor, como Francisco. Este último é “um pároco, com seu próprio estilo pastoral, que fala de forma simples com as pessoas, mas pressupõe toda a doutrina que o Papa Bento tão bem explicou”.
“Isso não quer dizer – acrescentou – que Francisco não saiba nada de teologia. Francisco sabe muito de teologia, mas para entendê-lo, é preciso conhecer a teologia espiritual. Francisco tem uma teologia que lhe vem da vida espiritual”. Como São Bernardo, São Francisco de Assis e Santo Inácio de Loyola.
E Müller aproveitou o que chama “de má interpretação de alguns” para criticar “os que inventam contradições entre os Papas recentes, porque provoca dano à Igreja”. Em sua avaliação, “temos que caminhar juntos, cada um com seu carisma, para levar adiante a Igreja”.
Talvez por isso, dedicou-se a reivindicar a “grande visão do mundo e da Igreja” que João Paulo II e Bento XVI tiveram, ainda que tenha reconhecido que Francisco, como bom latino-americano, tem uma nova visão do mundo diferente da europeia, que está conduzindo a Igreja para as “periferias reais”. Uma visão, de qualquer modo, diferente da europeia de seus predecessores, onde “enfrentamos o secularismo e uma política agressiva da Europa contra o cristianismo”.
Uma visão, a do guardião da ortodoxia, que soa muito diferente da misericórdia de Francisco. Enquanto o Papa fala da Igreja hospital de campanha, o cardeal Müller continua pregando a Igreja aduana, rocha assediada por todos os tipos de inimigos internos e externos. Uma Igreja sem primavera e sem compaixão, mas segura em sua doutrina.

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