quarta-feira, 11 de maio de 2016

O uso do cabeção

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Antes de mais nada, esclareço que cabeção é a palavra portuguesa para o que inadequadamente se convencionou chamar de clergyman, vocábulo inglês que significa clérigo. O cabeção, em suma, é o colarinho eclesiástico, ou seja, uma gola branca, adaptada à camisa, em volta do pescoço do sacerdote. Dispomos de um termo em nossa língua. Usemo-lo! Não há mister recorrer ao glossário alienígena. Não nos humilhemos!
Traduzo o cânon 284 do código latino: “Os clérigos usem hábito eclesiástico decoroso, de acordo com as normas da conferência episcopal e com os legítimos costumes locais.”
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) regulamentou esse cânon, dispondo que os clérigos têm de usar “um traje eclesiástico digno e simples, de preferência o clergyman ou a batina.” (Legislação Complementar). Infelizmente, deslembrou-se do nosso castigadíssimo cabeção.
Parece clarividente que ao direito eclesial repugna a ideia do padre ou do bispo vestido como leigo. Daí o valor do cabeção, o qual “distingue claramente os sacerdotes dos leigos e dá a entender o caráter sagrado do seu ministério, recordando ao próprio presbítero que, sempre e em qualquer momento, é sacerdote (…)” (Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, n.º 61).  Com efeito, preceitua também o mesmo diretório: “Numa sociedade secularizada e de tendência materialista, em que também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero – homem de Deus, dispensador dos seus mistérios – seja reconhec&ia cute;vel pela comunidade, também pelo hábito que traz como sinal inequívoco da sua dedicação e da identidade de detentor de um ministério público.”(n.º 61).
Discursava Bento XVI, o papa emérito, aos participantes de um congresso teológico realizado em 2010, na Cidade Eterna: “No modo de pensar, falar, julgar os acontecimentos do mundo, servir e amar, e de se relacionar com as pessoas, também no hábito [por exemplo: cabeção], o presbítero deve haurir força profética da sua pertença sacramental.”
Finalizo, dando um testemunho. Na Igreja particular onde resido, a Diocese de Santo Amaro, uma das cinco dioceses localizadas na cidade de São Paulo, a esmagadora  maioria dos padres usa o cabeção. Alguns até trajam veste talar, isto é, batina. Cumprimento-os por terem a coragem de cumprir a lei canônica, porquanto entenderam o espírito benfazejo dela, já que o cabeção ou colarinho eclesiástico é um sinal exterior de uma realidade interior da alma do homem de Deus (Diretório acima referido, n.º 61).

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