segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Cresce a Itália que abandona as igrejas: mais fácil perder a fé aos 55 anos


Entre protestos em praças sobre as uniões civis, apelos à tradição natalícia e à fé islâmica, a religião está, há tempo, no centro do debate político e social do País. Mas isso não significa que a exposição midiática transforme-a num renovado interesse para os italianos. Na verdade, olhando friamente para os dados, a tendência parece completamente inversa.
O artigo é de Raphaël Zanotti, publicado por La Stampa, 25-02-2016. A tradução é de Ramiro Mincato.
ISTAT fotografou recentemente a propensão à prática religiosa, e a imagem resultante é a de um país que caminha para a secularização. Não rapidamente como em outros países europeus, é verdade, mas que demostra um óbvio descontentamento. As igrejas estão vazias, sempre se disse. É verdade, como para as mesquitas e as sinagogas, e agora o certifica também as estatísticas.
Em 2006, um em cada três (33,4% exatamente) declarou frequentar locais de culto, ao menos uma vez por semana. A percentagem, no entanto, caiu agora para 29%. E o declínio tem sido constante ao longo dos anos. Por outro lado, as pessoas que declararam nunca frequentar locais de culto passaram de 17,2 a 21,4%. Na prática, mais de uma em cada cinco pessoas.
Os dados, colocados assim, mostram uma tendência geral. Mas olhando mais detalhadamente, notaremos algumas coisas interessantes. Primeiro, os números são um pouco "viciados". Um pouco porque em estatísticas se tende a declarar o que se gostaria de fazer e não o que realmente se faz. Outro pouco pela presença das crianças entre 6 e 13 anos, que, com seus 51,9% de 2015 empurram para cima o percentual que de outra forma permaneceria mais baixo. 
O colapso da frequência aos locais de culto atingiu todas as faixas etárias. Aquela em que se "perde" a fé por excelência permanece entre 20 e 24 anos. A curva, então, tende a subir lentamente até a que poderíamos chamar de área da "aposta de Pascal". Mas a comparação com 2006 mostra que a faixa etária mais desiludida é aquela entre 55 e 59 anos, que na última década perdeu 30% dos frequentadores dos locais de culto. Gama esta que poderia ser estendida aos 60-64 anos, onde o declínio foi de 25%.
O sociólogo Franco Garelli, dos maiores especialistas no assunto, explica: "Este fenômeno pode ser ditado por dois fatores: por um lado, nessa faixa etária, muitos constroem uma segunda vida alternativa. Os filhos cresceram, a carreira está chegando ao fim, os novos compromissos os afastam da prática religiosa. Por outro lado, pode ser uma consequência da crise: pessoas saídas do ciclo de produção, empenham-se em voltar".
Mas são as novas gerações que oferecem as ideias mais interessantes. É provável que, quando adultos, estarão menos próximos à do que estão os de hoje. Se é verdade que as crianças são ainda os frequentadores mais assíduos, as famílias parecem cada vez menos inclinadas a respeitar seus compromissos religiosos assíduos.
Hoje, um em cada dez crianças não frequenta como uma vez, e os adolescentes entre 14 e 17 anos diminuíram de 17,6%. E inversamente, aqueles que nunca frequentam aumentou de 57% entre as crianças e 33% entre os adolescentes.
"É interessante notar que os adolescentes de 18 e 19 anos, que continuam a ser o núcleo duro do associacionismo católico, mantêm-se (são cerca de 15% de frequentadores regulares, ndr), mas sua erosão é importante", diz ainda o Professor Garelli.
Analisando do ponto de vista geográfico, a Itália aparece bastante dividida entre Norte e Sul. Se a Sicília é a região mais religiosa (mais de 37% frequenta ao menos uma vez por semana), a Ligúria é a mais agnóstica e ateia (mais de uma em cada três pessoas nunca frequenta e somente 18,6% o fazem assiduamente).
Estamos longe das percentagens da Suécia (90% se declara religioso e 3% praticante), mas a tendência vai em direção a uma religiosidade cada vez mais recortada entre as pessoas que não seguem os preceitos não considerados necessários.
No tocante as profissões, os quadros funcionários, donas de casa e aposentados são os mais religiosos. Executivos, empresários, profissionais liberais, trabalhadores e estudantes, os menos. "Quem recebe estímulos ou está envolvido em trabalhos conceituais ou manuais mais exigentes, dedica-se menos ao transcendente", explica Garelli.

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