03 Fev. 16
Por Diego López Marina
FILADELFIA, (ACI).-
A
revista americana Newsweek publicou uma extensa reportagem, na qual
desmantelou uma série de falsidades do ex-coroinha Daniel Gallagher,
mais conhecido como “Billy Doe”, que terminou na injusta condenação de
três sacerdotes que foram presos e um professor da Arquidiocese da
Filadélfia (Estados Unidos), falsamente acusados de abusos sexuais
cometidos contra o menino. A seguir divulgamos a verdadeira história
deste caso revoltante.
Em 2011, Daniel Gallagher, na época com 22 anos, conseguiu aparecer nas
capas dos jornais dos Estados Unidos depois de afirmar que teria sido
violado repetidas vezes por dois sacerdotes e um professor quando ainda
estava na escola da paróquia de São Jerônimo, na Filadélfia.
Após seu testemunho, foram condenados os três supostos agressores, assim
como Mons. William Lynn, ex-vigário para o clero da Arquidiocese da
Filadélfia, declarado culpado por tais crimes de terceiros. Esta foi a
primeira vez na história na qual um administrador da Igreja Católica havia sido condenado por este crime.
A denúncia civil apresentada contra a Arquidiocese da Filadélfia, assim
como contra seus supostos agressores (Pe. Charles Engelhardt, o
ex-sacerdote Edward Avery e o ex-professor de escola Bernard Shero), fez
com que “Billy Doe” recebesse uma indenização de aproximadamente 5
milhões de dólares em agosto de 2015, assinala Newsweek.
Avery e Shero foram encarcerados desde 2013, mas o Pe. Engelhardt morreu
na prisão em novembro de 2014, depois que lhe foi negada uma operação
de coração, a qual teria salvado a sua vida.
A denúncia apresentada por Gallagher remonta a 2009, quando em uma
conversa com um assistente social da arquidiocese falou dos supostos
abusos dos quais havia sido vítima e disse que os responsáveis eram o
Pe. Engelhardt e o professor Shero.
Entretanto, até hoje, Gallagher apresentou pelo menos nove versões diferentes deste acontecimento.
O caso na revista Rolling Stone
A história de Billy Doe” chamou a atenção da escritora da revista
Rolling Stone, Sabrina Rubin Erdely. A repórter realizou diversas
acusações relatadas em um artigo chamado “The Catholic Church’s Secret
Sex-Creme Files” (Os arquivos dos crimes sexuais secretos da Igreja
Católica, de 2011), no qual qualificou Daniel Gallagher como um “doce e
amável menino com boa aparência juvenil”.
Entretanto, Erdely foi a mesma jornalista que anos depois escreveu sobre
“Jackie”, uma estudante da Universidade de Virginia, que afirmava que
havia sido estuprada por sete homens em uma festa de fraternidade. Logo,
foi declarado que a história de 2014, que havia sido divulgada pela
mídia durante algumas semanas, na verdade foi um engano de “Jackie”.
A revista Rolling Stone teve que se retratar e, atualmente, enfrenta duas denúncias por difamação.
As contradições
Os membros da ordem religiosa do Pe. Engelhardt, os Oblatos de São
Francisco de Sales, continuaram com a batalha a fim de desculpar o seu
irmão falecido. Deste modo, contrataram os serviços do psiquiatra
forense Stephen Mechanik a fim de que realizasse uma avaliação de Daniel
Gallagher sob ordem judicial.
No relatório de 40 páginas obtido pela revista Newsweek, Mechanik
apresentou os resultados das provas do MMPI-2 (Inventário de
Personalidade Multifásico de Minnesota), através do qual Gallagher
admitiu ter mentido e proporcionado “informação pouco confiável” acerca
do caso.
Depois de uma revisão minuciosa do histórico clínico de Gallagher obtido
em 28 clínicas de reabilitação de drogas, hospitais, médicos e
conselheiros que visitou, o psiquiatra detalhou que o rapaz, o qual
acusou injustamente os sacerdotes, “nem sempre era honesto com seus
fornecedores de serviços médicos”.
Em 2007 e novamente em 2011, Gallagher disse que era médico e surfista
profissional e teve que abandonar o esporte devido ao seu vício de
drogas. Ainda afirmou ter sofrido uma hérnia em um disco da coluna.
Em seguida, Gallagher admitiu ante o Dr. Mechanik que era mentira que
era médico e também nunca foi surfista. Além disso, Mechanik escreveu
que os registros médicos “não indicam que o senhor Gallagher tenha sido
diagnosticado alguma vez com uma hérnia no disco da coluna”.
Embora isto possa ser considerado trivial, Gallagher também proporcionou
“informação contraditória e pouco confiável” acerca da sua história de
abuso sexual e dos detalhes dos supostos ataques dos dois sacerdotes e
do professor.
Com relação a este tema, Mechanik escreveu: “Não é possível concluir com
um grau razoável de certeza psiquiátrica ou psicológica que o Sr.
Gallagher foi abusado sexualmente quando era criança”, adicionou o
psiquiatra.
Mais provas contra Billy Doe
Existem também outras razões para duvidar da credibilidade de Daniel
Gallagher muito antes de ser examinado por Mechanick. O jovem de 27 anos
consumia e traficava heroína. Foi expulso de dois colégios durante o
ensino médio, entrou e saiu de 23 centros de reabilitação de drogas (em
um período de 10 anos).
Foi preso seis vezes por tráfico de drogas e um roubo menor, inclusive pela distribuição de 56 bolsas de heroína.
Mechanik não é a única pessoa cética a respeito de Billy Doe e suas
histórias. O detetive responsável pela investigação no distrito da
Filadélfia também tem uma série de dúvidas acerca destas denúncias.
Em uma declaração confidencial adquirida pelo Newsweek, perguntaram ao
detetive Joseph Walsh no dia 29 de janeiro de 2015 a respeito das nove
contradições importantes na história de Gallagher. Walsh atestou que
quando questionou a Daniel Gallagher a respeito das contradições, o
jovem permanecia sentado sem dizer nada ou afirmava que estava drogado
nesse momento... ou contava uma história diferente.
Além de seus “contos inverossímeis”, prossegue Newsweek, existe um
conjunto totalmente diferente de razões para acreditar que Gallagher
esteja mentindo de forma recorrente.
Mechanick utilizou informação da escola de “Billy Doe” e seus registros
médicos com o objetivo de refutar as inúmeras denúncias de lesões
físicas e psíquicas que realizou nos últimos anos.
Na Filadélfia, este caso continua sendo notícia, mesmo três anos depois
do julgamento original que condenou Mons. William Lynn. No dia 22 de
dezembro do ano passado, o Tribunal Superior do estado da Pensilvânia
anulou pela segunda vez a condenação contra o sacerdote e ordenou um
novo julgamento.
O juiz de primeira instância no caso, M. Teresa Sarmina, abusou de sua
discrição quando admitiu como prova contra o sacerdote 21 casos
adicionais de abuso sexual que supostamente aconteceram em 1948, três
anos antes de o clérigo de 64 anos nascer.
Durante o funeral de Pe. Engelhardt, o superior provincial dos Oblatos
de São Francisco de Sales, Pe. James Greenfield, revelou que, na véspera
de seu julgamento, o sacerdote falecido poderia ter feito um acordo
para sair da prisão e realizar serviço comunitário. Mas, permaneceu na
prisão “pois não quis perjurar contra si mesmo ao declarar-se culpado”
nem “admitir um crime que não havia cometido”.
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