terça-feira, 21 de abril de 2015

A grande dificuldade dos teólogos explicarem a Imaculada Conceição

[afeexplicada]



Immaculate Conception
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Sabemos que Deus é Onipotente. Logo, podia ter feito Maria sem pecado, era conveniente que o fizesse pois d’Ela nasceria o Verbo, logo Ele A fez sem pecado. Podia, era conveniente, fez.
Com efeito, quem que podendo escolher e criar para si uma mãe não a faria do modo mais perfeito possível? Se nós, criaturas que somos, criaríamos a mãe mais sublime que nos fosse dado cogitar, quanto mais Deus, que é a Perfeição em essência, o faria para Si.
Além disso, como aceitar que o sangue de Jesus tenha brotado de um manancial manchado pelo pecado? Como admitir que a Mãe do Salvador tenha sido escrava de satanás pelo pecado, ainda que por instantes? Se Adão e Eva, responsáveis pelo pecado original e suas catastróficas consequências, foram criados sem pecado, como podia Maria ser criada em estado inferior, Ela que nos trouxe a salvação?
Não apenas Maria foi criada sem pecado e assim permaneceu ao longo de toda sua existência, mas teve logo no primeiro instante uma plenitude de graças que ultrapassa os méritos de todos os homens e Anjos reunidos. Mas porque isso? Por que Deus assim o quis, para manifestar sua grandeza e para mostrar seu senhoril absoluto sobre todas as coisas. A nós basta ter a humildade para reconhecer que “o Poderoso fez em mim maravilhas, grande é o seu nome”. (Lc 1, 49)
Agora passamos a um argumento de razão: a grande dificuldade dos teólogos explicarem a Imaculada Conceição, desde os primeiros tempos da Igreja até século XIII, era conjugar esse privilégio de Maria com a Redenção Universal de Jesus. A crença na Imaculada Conceição era moeda corrente desde sempre, mas ninguém tinha podido explicar até o franciscano João Duns Escoto – filósofo e teólogo medieval – encontrou a chave do problema.
A charada estava num matiz teológico muito simples, ao ponto de ser genial: a Igreja não acha que Nossa Senhora não tenha precisado da redenção, mas sim que foi curada do pecado antes mesmo de contraí-lo, portanto ela é o fruto mais belo do Sacrifício de Cristo, santificado em previsão de sua morte, antes mesmo dele nascer. Portanto, de alguma forma Ela também “pecou em adão”, no sentido de que faz parte da humanidade submetida ao pecado, só que recebeu as graças da redenção já no momento de ser concebida, quando Deus evitou o contágio efetivo do pecado original em sua pessoa. O Beato Escoto diz: a melhor forma de curar é evitar a enfermidade! Foi o argumento decisivo para vencer a famosa disputa de 1307 em Paris, que deu cidadania à tese da Imaculada Conceição no mundo católico.
Quanto ao trecho de São Paulo a que se refere, bem como toda a Escritura, não pode ser lido fora do contexto, sob o risco de fazermos uma interpretação meramente humana, desligada do Espírito Santo. Esse trecho é parte da explicitação que o Apóstolo faz sobre a lei do pecado e da condenação em contraposição à lei da graça, que fora instaurada por Jesus Cristo ao morrer na Cruz. Se seguimos a leitura encontramos: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho […].” (Rm 8, 1-4) Se São Paulo afirma isso em relação a todos os que estão unidos a Cristo, com maior razão deve-se aplicar a Maria, que O deu à luz. “Entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, cheia de graça! O Senhor é contigo. […] O anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. […] Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.” (Lc 1, 28; 30-31; 34-35) Como podia ser chamada “cheia de graça” se n’Ela houvesse alguma mancha de pecado? E se o Espírito Santo a fez conceber milagrosamente sem violar sua integridade, porque não poderia preservá-La do pecado em previsão dos méritos da paixão de Cristo?
A lei do pecado não é maior que o Espírito Santo.

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