Inaugurado em julho deste ano, o templo de Salomão fica no bairro do Brás, em São Paulo - Marcos Alves / Agência O Globo
SÃO PAULO - O Templo de Salomão abriu nesta sexta-feira pela primeira
vez suas portas ao público. Um forte esquema de segurança foi montado
para não deixar ninguém entrar na nave principal, onde ocorrem os
cultos, com celulares ou máquinas fotográficas. Com 126 metros de
comprimento e 104 metros de largura, dimensões que superam as medidas de
um campo de futebol oficial, o templo construído pela Igreja Universal
do Reino de Deus (Iurd) virou uma atração turística no Brás, na Região
Central de São Paulo.
Para conseguir ultrapassar as grades e conhecer os mais de 100 mil
metros de área construída com pedras importadas de Israel, oliveiras
uruguaias e muitos objetos dourados, é necessário fazer um cadastro no
bando de dados da Universal e conseguir uma credencial. Antes de
qualquer passeio, todos sempre acompanhados por pastores e seguranças
particulares, é necessário passar por uma revista. Na área externa é
permitido fotografar. Dentro das construções, não.
No terreno do templo, a loja oficial da Universal vende restos das
pedras importadas para a construção do templo gravadas com o nome da
igreja por até R$ 100. Símbolos do judaísmo e até um quipá - um tipo de
chapéu redondo usado por judeus - camuflado escrito "exército de
Israel".
- Está sendo um dia abençoado - afirmou o serralheiro Francisco
Muriel de Souza, de 49 anos, que viajou de Montes Claros, em Minas
Gerais, a São Paulo, de ônibus, para conhecer o templo.
Do lado de fora, centenas de fiéis e curiosos fizeram fila no
primeiro dia em que a Iurd abriu sua maior casa à comunidade. Dentro da
nave central, as imagens judaicas, adornos dourados e os efeitos de
luzes dão o tom do maior templo evangélico já construído no Brasil. São
200 estrelas de Davi e 12 candelabros gigantes de sete braços -
conhecidos como menorah. A iluminação é toda feita com LED e o som
possui a qualidade dos melhores cinemas. Ambos ajudam a ditar o ritmo
das orações.
Os fiéis começaram a chegar por volta das 8h para o culto. Antes de
entrar, era necessário passar por pelo menos duas revistas. Quem fosse
flagrado com celular ou equipamento capaz de captar imagens, era levado
para o subsolo do templo. Lá, era obrigado a deixar todos os pertences
num armário e, novamente, era revistado. Liberado, só assim ele podia
procurar um lugar para sentar. O GLOBO flagrou uma pessoa sendo retirada
da nave principal quando tentava fotografar a reunião.
O culto iniciou pontualmente às 10h e durou cerca de duas horas. O
primeiro cântico de louvor foi seguido também pelo primeiro pedido de
oferta feito pelo bispo Márcio Carotti aos fiéis. Por toda a nave
central, que tem 75 mil metros quadrados com capacidade para receber até
10 mil pessoas, cerca de 50 obreiros - colaboradores da igreja - e
pastores se posicionavam com sacolas vermelhas com fios dourados e
máquinas de cartão de crédito. O dízimo pode ser parcelado no cartão sem
juros.
Para o primeiro dia, a Universal escolheu para abrir os trabalhos no
Templo de Salomão o "Clamor da Reivindicação". A pregação feita por
Carotti baseou-se na oferta para receber no futuro. Por pelo menos três
momentos, o bispo reafirmou a necessidade para doar a Iurd. No meio do
culto, imagens do ônibus que bateu esta semana na grade externa do
templo foi usada para reforçar o pedido de oferta. Para o pastor, o
acidente é "culpa de Satanás".
- Quem foi que causou este acidente? - indagou o bispo respondendo junto com o público que assistia a pregação:
- Foi Satanás!
Após acusar “Satanás”, o bispo afirmou que o acidente custou à
Universal R$ 150 mil. Na madrugada de terça-feira, um ônibus
desgovernado invadiu a calçada quebrando parte do piso e um pedaço de
dez metros da grade de ferro externa. Ele ressaltou o quanto a doação
iria representar:
- Vamos ver Satanás envergonhado da nossa oferta - pregou o pastor.
Nos momentos de maior comoção do publico, que não chegou a lotar a
nave principal, vozes de pessoas gritando como se estivessem com dor
ecoavam dos gravadores e a alternância de momentos de escuridão total
com luzes vermelhas iluminando os doze candelabros.
No final do culto, o bispo pediu para que os fiéis pegassem um
envelope dourado que estava posicionado em frente as poltronas -
importadas da Espanha - escrito "Sexta-Feira: Vitória Total 7 profetas".
Ele pediu para que no dia 5 de setembro, quem voltasse trouxesse uma
contribuição financeira, o dízimo, e encerrou a pregação afirmando:
- Quem guarda o melhor para si não honra a Deus.
A Justiça ainda não acolheu o pedido do Ministério Público de São
Paulo que pede a anulação a licença de eventos que a prefeitura de São
Paulo forneceu à Universal para abrir o templo. O Templo não tem o
alvará pleno para funcionamento e foi inaugurado no último dia 31 com um
alvará de evento - utilizado para festivais de músicas e eventos
esportivos.
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