domingo, 20 de março de 2011

Vingança da natureza ou Castigo de Deus?

Não se brinca com Deus!
pelo editorial de fsspx.com.br

Desastre no estado de Santa Catarina, desastre na região serrana do estado do Rio de Janeiro, desastre no Japão... Apresentamos uma coletânea de artigos: Vingança da natureza ou castigo de Deus?
Foto: Nova Friburgo/RJ após as fortes chuvas do verão de 2011.
 
Clique aqui para ler um artigo de Dom Tomás de Aquino OSB, do Mosteiro da Santa Cruz, sobre o de-sastre em Nova Friburgo/RJ. Nota: a cidade é considerada a capital nacional das Lingeries.
Foto: Tsunami no Japão após forte terremoto.

Clique aqui e veja no YouTube um vídeo mostrando parte do desastre.
Diante de tantas catástrofes, que alguns ainda ousam apontar como uma vingança da natureza, apresen-tamos o excelente artigo “A erupção da montanha pelada” escrito pelo Rev. Pe. Nicolas Pinaud e traduzido para o português pelos monges da FBMV e publicado nos dois primeiros volumes de sua revista Veritati, disponível para baixar no site da comunidade monástica.
A ERUPÇÃO DA MONTANHA PELADA
“NÃO SE BRINCA COM DEUS”
A Montanha Pelada em erupção (foto tirada de um navio)

Um artigo do pe. Nicolas Pinaud.

Traduzimos o seguinte artigo da revista “Sel de la Terre” (Couvent de La Haye-aux-Bonshommes 49240 – France), do seu nº 40. A tragédia aqui narrada é uma grande lição para os nossos tempos de impiedade e de indiferença. O desprezo da Verdadeira Religião nunca é sem consequências...
***
Eis a narração do drama acontecido no dia 8 de maio de 1902 na Martinica (um arquipélago situado nas Antilhas que é parte da França Ultramarina, n.d.r.). A erupção da Montanha Pelada destruiu num piscar de olhos a cidade de São Pedro, provocando a morte de quase 40.000 dos 100.000 habitantes que contava a Martinica nessa data. Visitando as ruínas dessa cidade, nós imaginamos o que deve ter sido a violência do cataclisma.
Os partidários do PACS e de outras abominações modernas (aborto, etc.), ganhariam em meditar sobre esse acontecimento, já que o profeta Oséias escreveu há muito tempo: “Aquele que semeia ventos, colherá tempestades”(Os. 8,7); e, mais próximo de nós, São Paulo escrevia aos Gálatas: “ Ninguém se engane: não se brinca com Deus” (Ga. 6,7).
Não pensemos que estas palavras estão ultrapassadas porque Deus se cala. “A pena é deixada para depois porque Deus é bom - escreveu Joseph de Maistre na obra “As delongas da justiça divina”- mas ela é certa porque Deus é justo”.
Parece que estas verdades nos permitem compreender essa terrível catástrofe do dia 8 de maio de 1902.
Depois de ter visitado em São Pedro o pequeno museu que reúne algumas lembranças e fotografias da cidade depois de sua destruição, eu perguntei à jovem antilhana que me servia de guia, se os habitantes da Martinica não tinham visto nesse cataclisma um castigo. Sem hesitação, ela me respondeu que sim. Eu lhe perguntei então qual podia ser a causa dessa punição. Essa moça, de mais ou menos 30 anos, me disse que a religião era desprezada e seus ministros eram insultados, acrescentando que talvez um padre tinha sido mor-to durante o carnaval precedente de 1902.
Sinais Premonitórios
A Montanha Pelada é um maciço que ocupa o Noroeste da Martinica e cujo ponto culminante, o Morne La Croix, tinha, antes da erupção de 1902, 1350m de altitude.
Nesse lugar 2 crateras “dormiam” desde séculos: o lago dos Palmistes, sobre a vertente do Atlântico, e o abismo chamado l’Étang Sec (o Lago Seco), em oposição ao lago que estava sempre cheio, situada sobre a outra vertente desse mesmo cume. A cratera do Lago Seco tinha dado, no dia 5 de agosto de 1855, alguns ligeiros sinais de vida: jatos de fumaça e cinza foram lançados a uma distância de apenas 100m.
Em 1902, desde o mês de fevereiro, primeiro um forte odor de enxofre exalou-se em direção à cidadezi-nha de Rivière Blanche. As serpentes e os pássaros abandonaram os flancos da montanha. Bois e carneiros rompiam suas cordas quando eram levados a pastar nas encostas da montanha; frequentemente os cães uiva-vam durante a noite.
Algumas poucas fumaças apareceram um pouco abaixo do cume da montanha, e nos arredores todos os objetos de prata se cobriam de uma fina camada azulada.
Esses fenômenos duraram até a sexta-feira 25 de abril. Nesse dia, entre as 7 e 8 horas da manhã, se ouviu uma detonação subterrânea, seguida imediatamente de um tremor de terra. Duas horas mais tarde, uma fina cinza azulada, com um forte odor de enxofre, começou a cair sobre a vila de Prêcheur. Durante a tarde, a terra tremeu de novo duas vezes.
Na segunda-feira, 28 de abril, ouviram-se estrondos sobre a montanha ao mesmo tempo em que colunas de vapor saíam dela. O curso d’água do ribeirão Blanche chegou a triplicar seu volume normal.
Em São Pedro da Martinica, na véspera, se realizava o primeiro turno das eleições legislativas, que eram particularmente disputadas. As paixões estavam superexcitadas e a febre política ocupava mais os espíritos que a insólita enchente do ribeirão vizinho, ou a presença ameaçante de algumas nuvens de cinza que, de resto, não tinham ainda atingido São Pedro. Os resultados do primeiro turno prometiam a vitória dos “repu-blicanos”. As pessoas de idade se lembravam sem dúvida desses fenômenos aparecidos 51 anos antes. A Montanha expeliu cinza que não causou nenhum estrago, e depois ela adormeceu sem mais problemas.
No Les Colonies, o maior jornal socialista de São Pedro, M. Hurard, seu diretor anticlerical, escrevia:
Para nós, habitantes da Martinica, o mês de abril foi duplamente trágico. Nós vimos duas erupções: a primeira nos espíritos, a outra na Montanha Pelada; uma eleitoral, a outra física; uma feita de discur-sos, de propaganda, de rum, de dinheiro e de votos; a outra de fumaça e de cinza... Que a Montanha se contente de esfumaçar e de soltar cinza! Mas, por Deus! Que ela não se ponha a tremer! Pois os corações tremeriam e dançariam também... Esta cinza é para nós um poema; esse poema já foi feito na nossa imaginação e, se o escrevêssemos, ele seria intitulado: A Cinza do Vulcão. E que chamas nós faríamos jorrar dessa cinza!...
A Montanha Pelada, vendo que os bons costumes desapareciam, quis simplesmente nos dar para comer um peixe de abril. Amável abril! Como você vai dormir, durma bem! Benvindo maio!
O mês de maio começou num espetáculo de desolação. A paisagem estava coberta de cinza, nem um pás-saro nas árvores, nenhum ruído. De vez em quando, um estalar seco anunciava a queda de um ramo, vencido pelo peso da cinza. Enormes colunas de cinza saíam da montanha.
No dia 2 de maio, durante a manhã, os estrondos se multiplicaram e, mais ou menos às 16 horas, uma co-luna de vapor negro escuro, inchada, sulcada por clarões, aparecia no cume. A cinza continuava a cair e, pela primeira vez, São Pedro foi recoberto de cinzas.


Na noite de 2 para 3 de maio, os habitantes do Morne Rouge foram despertados no meio da noite por uma espécie de canhoneada subterrânea, um tremor de terra e uma terrível explosão , tudo isso acompanhado de uma espécie de ronco contínuo, semelhante ao rugido do leão. Todo mundo saiu de suas casas. A Montanha estava coroada de clarões que saíam da cratera. O pânico se apoderou dos moradores, que se precipitaram em direção à igreja; os confessionários foram “tomados de assalto”. A multidão permaneceu ali até a manhã, esperando a morte.
Debaixo de uma chuva de cinzas que espalhavam um forte odor de enxofre, nos diz Mons. Parel, eu quis visitar Sainte Philomène, le Prêcheur, le Morne Rouge, que são a localidades mais próximas do vulcão. Essas três vilas estavam cheias de habitantes do campo, que fugiam das alturas da Montanha em direção ao litoral. As igrejas, abertas desde a véspera, estavam sempre cheias.Os padres não ces-savam de batizar, de confessar e de sustentar a coragem do povo aterrorizado.
No dia 3 de maio, o governador Louis Mouttet deixou Fort-de-France (a capital da Martinica, n.d.r.), para examinar por si mesmo a situação. Ele voltou no mesmo dia à tarde, tranquilizado pelas informações recebi-das: o vulcão não tinha entrado em atividade desde já meio século, não havia, portanto, motivo para se alar-mar demais!
A “Sociedade de Ginástica” de São Pedro, que tinha organizado para o domingo seguinte, uma grande excursão sobre a Montanha, refrescava assim, na imprensa, a memória de seus membros:
Aqueles que jamais desfrutaram do panorama magnífico que se oferece ao olhar do espectador ma-ravilhado, a 1300m de altitude, aqueles que desejam ver a abertura escancarada pela qual, nesses úl-timos dias, saíram fumaças espessas que aterrorizaram os corações dos habitantes das povoações vi-zinhas, eles deverão aproveitar essa bela ocasião. Portanto, se o tempo for bom, os excursionistas passarão um dia do qual eles guardarão por muito tempo uma agradável lembrança...
A curiosidade e o entusiasmo dos voluntários foram esfriados depois da erupção ocorrida durante a noite. A excursão foi adiada sine die. O domingo, 4 de maio, foi relativamente calmo.
Na segunda-feira, 5 de maio, mais ou menos às 12:30 h, um rio de lama negra incandescente, com uma dezena de metros de altura, saiu da cratera e como uma avalanche, num piscar de olhos, desceu da Montanha e cobriu a Fábrica de rum Guérin, as casas dos proprietários e pavilhões dos empregados. Somente a cha-miné da usina, como um mastro de um navio que afunda, ficou visível algumas horas no meio dessa maré de lama que engoliu 150 pessoas.
No mesmo momento em que ocorria essa avalanche, no ancoradouro de São Pedro, o mar se retirou, co-mo se estivesse espantado. Depois, de repente, as ondas voltaram como montanhas, e invadiram a cidade espalhando nela a consternação. Os habitantes começaram a fugir para os lugares mais altos, mas vinte mi-nutos mais tarde tudo voltou ao normal.
Então a emoção subiu ao máximo. Algumas famílias partiram para a ilha de Santa Lúcia, muitos outros para outras povoações onde parentes e amigos podiam recebê-los provisoriamente...
As autoridades então se aplicaram a tranquilizar a população!
A pedido expresso do prefeito, o governador Mouttet e o coronel Gerbault, acompanhados de suas espo-sas, vieram e ficaram em São Pedro a partir de 6 de maio, o que lhes custará a vida.
A “Comissão científica” nomeada pelo governador declarou, na véspera do desastre, no começo da noite, através de toda a cidade de São Pedro e ao som do tambor,...”que a posição relativa das crateras e dos vales que desembocam no mar permite afirmar que a segurança da cidade de São Pedro é absoluta.”
E esta consulta solene foi afixada em Fort-de-France 3 horas depois do desastre! O Criador faz pouco da ciência dos homens. A Deus somente pertence o futuro.
Na tarde desse mesmo dia, 7 de maio, o capitão de um barco italiano parado no ancoradouro foi melhor inspirado; ele foi procurar com urgência seus papéis com o seu consignatário, que lhe disse para voltar no outro dia: “Pois bem, eu dispenso os papéis! – respondeu ele, e mostrando a Montanha Pelada, acrescentou: “Se na Itália nós víssemos o Vesúvio esfumaçar tão fortemente, todo mundo se apressaria em fugir!”... No dia seguinte, os 400 barcos ancorados no porto estavam todos, à exceção de um só, incendiados e submergi-dos.
O jornal Les Colonies, no seu número da quarta-feira 7 de maio, o último, aquele que devia fechar sua carreira, noticiava:”(...) A emigração de São Pedro continua a se intensificar... os vapores da companhia Gi-rard estão sempre cheios. A média de viajantes na linha de Fort-de-France, que era de 80 passageiros por dia, aumentou para 300 por dia de três dias para cá. Nós confessamos não compreender o porque desse pâni-co. Onde se pode estar mais seguro que em São Pedro?”
Apesar de todos esses belos discursos, escreve uma testemunha, muitos tinham medo, e se viu com terror a chegada da noite. Para aumentar a apreensão, a cidade inteira mergulhou nas trevas, pois que a energia elétrica apagou-se por causa dos fenômenos magnéticos provenientes do vulcão.
Estamos a algumas horas da catástrofe. Depois de tantos sinais premonitórios (tremor de terra, chuva de cinzas e de grafite, odor de enxofre, aquecimento das águas dos ribeirões, água do lago dos Palmistes subi-tamente desaparecida, destruição da usina Guérin...), parece espantoso que os habitantes de São Pedro não tivessem tido uma idéias mais justa do perigo que lhes ameaçava. A Montanha não cessava de dar as mais significativas advertências.
Porque não se evacuou a cidade?
É difícil, disse uma testemunha, responder por todos, pois cada um reagia segundo o seu próprio tempe-ramento.
Muitos sem dúvida esperavam que se o vulcão se enfurecesse em extremo, eles teriam tempo de fugir das lavas. Outros pensavam que a expulsão desse imenso rio de lama tinha aliviado o vulcão, e que a crise tinha passado. Alguns, temendo uma grande invasão da água do mar (raz-de-marée), preferiam ir para os lugares mais altos. A erupção da ilha de Krakatoa era a causa desse medo: o vulcão Sonde tinha explodido como uma bomba gigantesca provocando um grande “raz-de-marée’.
Abandonar a própria casa era se expor seguramente à pilhagem e se expor à ruína.
O número de filhos, as pessoas para cuidar, os enfermos, os doentes, foram certamente para um bom nú-mero um obstáculo à fuga.
É exagerado pensar que o espetáculo impressionante desse monstro encolerizado provocava uma espécie de fascinação? Isto não é impossível.
Enfim, as eleições que continuavam a esquentar os ânimos na ilha, tinham feito nesse ano a “temperatura social” se elevar a graus jamais antes atingidos. O segundo turno da eleição devia se realizar no dia 11 de maio. Para que houvesse eleitores, o povo devia permanecer ali, convinha então tranquilizá-lo, e o relatório da comissão científica certamente contribuiu para isto!
A Catástrofe
No dia 8 de maio de 1902, depois de uma noite de tormenta, de roncos surdos, São Pedro despertou tarde nesse dia da Ascensão. Espessas nuvens negras, opacas, escureciam o céu.
O vapor “Rubis” que deixava o porto às 6:30 h em direção à Fort-de-France, foi tomado de assalto por numerosos viajantes. Ele foi literalmente invadido por grupos de pessoas que se agarravam em todas as par-tes do navio. Muitos habitantes, aterrorizados pela noite que atinham acabado de passar, se tinham resolvido a partir.
Os carrilhões tocaram todos os sinos chamando os fiéis aos primeiros ofícios do dia da Ascensão.
De repente, se ouviu uma explosão terrível. Eram 7:50 h; foi a hora fatal que ficou inscrita no relógio encontrado no hospital mantido pelos Padres de São João de Deus.
Um ruído, comparável ao de centenas de sirenes de navios tocando ao mesmo tempo, encheu o ar, e uma nuvem de fumaça, inchada, espessa, negra, sulcada de clarões, escapou do vul-cão entreaberto e, num piscar de olhos, se precipitou sobre a cidade, a cobriu, sufocou, a-brasou, rolou sobre o mar, e depois se dilatando em todos os sentidos, cresceu como uma montanha de cinza e de fogo.

Depois de ultrapassar a cidade, a nuvem parou subitamente, repelida por um violento vento contrário. Então se pôde perceber a cidade: uma fumaça opaca cobria a infeliz cidade com o seu véu negro e impene-trável de onde jorravam, a intervalos, milhares de flamas.
Na hora fatal, o receptor de telefone de Fort-de-France, M.Lodéon, estava desde alguns instantes conver-sando com o seu colega de São Pedro, quando este se calou bruscamente no meio de uma palavra inacabada. Enquanto que todas as sirenes apitavam, M. Lodéon sentiu um violento tremor elétrico e percebeu um ester-tor de agonia e como o ruído de um vasto desmoronamento. E, é claro, a ligação se interrompeu.
A destruição tinha se completado. 70 segundos bastaram para varrer a cidade de São Pedro da Martinica do mapa.
Então, uma chuva de cinza fina cobriu o drama como uma mortalha. Da cidade só restava um braseiro, paredes despedaçadas e calcinadas, um monte indescritível de entulho e de árvores carbonizadas. Dos 40.000 habitantes que presenciaram o drama, nem um escapou; eles foram queimados, asfixiados, fulmina-dos, eletrocutados num instante.
São Pedro da Martinica depois da catástrofe.

As fotografias da cidade destruída nos fazem imediatamente pensar nas fotos de Hiroshima destruída pela bomba atômica. São Pedro dá a impressão de ter sido destruída por um gigantesco sopro: a estátua de Notre-Dame-de Bon-Port, protetora dos marinheiros, foi encontrada a uma dezena de metros do seu pedestal. Ela pesava 5 toneladas e estava situada a 5 km da cratera!
Um sino da catedral foi consideravelmente deformado pelo efeito do calor. Exposto no museu do vulcão, ele é talvez a lembrança mais impressionante e que mais ajuda a fazer uma idéia da potência do cataclisma; esse sino pesa uma tonelada e parece ter sido comprimido por um “punho de ferro”!
Apenas 1 dos 400 barcos ancorados no momento do cataclisma, o Roddam, escapou ao desastre. Temos a narração feita por um de seus passageiros:
Quando a coluna de fogo e de larvas se abateu sobre a cidade, um imenso clamor se elevou; gritos de desespero e angústia. Esse clamor lúgubre e pungente foi tal, que ultrapassou em potência o ruído das ondas e o roncar do vulcão.
Vimos uma multidão se precipitar para a praia. Mas os infelizes não corriam muito tempo, naquele fogo que os envolvia. Eles caíam como moscas, e os que chegaram até a beira do mar onde eles pen-savam encontrar a salvação, foram de uma só vez engolidos por uma imensa lama que os arrastou. Além disso, as ondas se tinham tornado ferventes, e as pobres vítimas foram queimadas antes mesmo de se afogarem.
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O barco foi recoberto com 10 toneladas de cinza incandescente, apesar da distância que o separava da praia. Ele chegou a Santa Lúcia num estado dos mais lamentáveis, a bordo só havia mortos e moribundos, ninguém sobreviveu às queimaduras sofridas.

Ruínas da cidade de São Pedro da Martinica após a erupção.

Porque o drama de 8 de maio de 1902 é um castigo?
Recentemente, o filme Titanic suscitou muitos artigos da imprensa. Mas jamais se fez menção das ins-crições blasfemas feitas sobre seu casco durante sua construção: nem se menciona que sua destruição, antes mesmo de terminar sua primeira viagem, poderia ser uma resposta divina aos ataques dos homens. Da mes-ma forma, no que diz respeito à erupção de 1902, não se encontrará menção desta possível explicação em nenhum trabalho recente, em nenhum guia turístico, mas ela persiste no coração dos antigos, e os mais no-vos ouviram falar dela, como essa antilhana que me fazia visitar o museu do vulcão...
A espada de fogo
Durante o ano que precedeu a catástrofe relatada, ocorreram no convento do Livramento presságios si-nistros, sinais espantosos, pressentimentos, dolorosas intuições.
Nove meses antes da erupção, duas Irmãs que residiam em São Pedro, no mesmo dia, ainda que encon-trando-se em lugares diferentes, viram uma espada de fogo pairar sobre a cidade, como que retida por uma mão invisível. Espantadas, perguntavam-se, cada uma de seu lado, o que isto poderia significar... Consterna-das, elas guardaram seu segredo até a hora da recreação. Então uma delas disse à suas Irmãs reunidas: “Oh! Eu vi uma coisa extraordinária e espantosa!” A segunda religiosa, testemunha do prodígio, respondeu-lhe: “Irmã, é impossível que a senhora tenha visto algo de mais espantoso e extraordinário do que o que eu vi.” Diante da insistência das outras Irmãs que pediam explicação, elas fizeram a mesma declaração: visão muito clara de uma espada de fogo que pairava sobre a cidade de São Pedro.
Na mesma época, um fato extraordinário aconteceu no Morne Rouge, numa outra casa da mesma co-munidade religiosa. Durante vários dias seguidos, “uma de minhas Irmãs e eu, _ relata Ir. Margarida-Maria _ nós encontramos as cortinas de nossos leitos cobertas de grandes manchas vermelhas semelhantes a sangue. As cortinas foram renovadas três vezes e, cada vez, o mesmo fenômeno se reproduzia: sobretudo um leito tinha as cortinas particularmente atingidas.” Estupefação na comunidade. “Que significa esse fato estra-nho?_ diziam entre si as religiosas _ talvez seja um anúncio de martírio.” “Quanto a mim, pensando nos progressos da perseguição religiosa, eu vi nisso um presságio de massacre...”
Também no Convento do Livramento de Morne Rouge, durante os três meses que precederam o cata-clisma, ouvia-se à noite, nos grandes corredores, soluços, suspiros e orações; durante o carnaval esse fatos se produziram mesmo durante o dia, ruídos de soluços eram percebidos em vários pontos do convento. Na terça-feira do Carnaval, no momento em que a comunidade confessava suas culpas na igreja, a Rev. madre superiora, retida por casa de doença na sala da comunidade, ouviu um choro na porta. O ruído foi tão forte que ela enviou uma religiosa que cuidava dela a ver se não havia alguém no corredor... Mas a religiosa não encontrou ninguém.
Contam-se ainda outros fatos misteriosos: uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes, cuja fisionomia sorridente mudou repentinamente para exprimir uma grande tristeza, ruídos de pratos quebrados num con-vento de religiosas, uma lâmpada que estremeceu.

Um castigo... Para punir qual crime?
 
A esta questão, a jovem que nos guiava nesse pequeno museu, de que eu lhes falei, não me respondeu dizendo:
_ “para punir os brancos por causa da escravidão...”, cuja festa da abolição se comemora nesse ano o 150º aniversário.
_ ou: “para punir os costumes relaxados”. É verdade que as uniões ilegítimas eram de longe as mais numerosas, e que a rua das prostitutas era muito frequentada. O último mandamento do bispo D. Cormont era um apelo insistente a seu diocesanos para os exortar a regularizar as uniões ilegítimas e a respeitar as leis do casamento.
Não, ela mencionou sem hesitar os pecados contra a religião.
Citemos a obra de Louis Garaud, Três anos na Martinica:
(...) Jamais as Saturnais em Roma, nem os Bacanais na Grécia, ofereceram um semelhante es-petáculo; nem a festa dos loucos, na Idade Média, ostentou tamanho desvario de alegria. A imagina-ção não pode conceber semelhantes loucuras, um delírio tão envolvente...
São Pedro, classificada como 101º cidade da França pelo seu luxo e conforto, desenvolvia todos os ví-cios que a moleza pode gerar. A Fé não era somente objeto de indiferença, ela era desprezada e insultada publicamente por um pequeno número, ao menos sob a instigação da loja maçônica de São Pedro, que era poderosa e muito ativa.
O carnaval, que toma proporções inimagináveis nas Antilhas, se dedicou naquele ano a atacar a religião. Os participantes, disfarçados de religiosos ou religiosas, zombavam da religião.
Algumas testemunhas afirmam que D. Cormont teve que encurtar a procissão de Corpus Christi prece-dente em razão dos insultos e das pedras que o cortejo recebia!
D.Cormont teve mesmo que deixar a Martinica alguns meses antes da catástrofe a fim de acalmar os es-píritos. Com efeito, uma polêmica muito viva se tinha levantado devido ao fato que ele queria conceder uma promoção a um de seus sobrinhos que era padre, quando um mais antigo disputava o lugar... cada um deles tinha os seus partidários!
Na sua partida, algumas pessoas, estimulados pela Maçonaria, tinham-lhe jogado pedras. D. Cormont se voltou para elas dizendo: “Os senhores nos lançam pedras, o vulcão as devolverá.” Estávamos no dia 10 de abril!
No seu livro Peregrinação fúnebre às ruínas de São Pedro, U. Moerens escreveu, na pág. 60:
Uma imprensa excessivamente violenta e ímpia se esforça em descristianizar este infeliz país. Com uma visão estreita e intolerante, aqueles que assumiram a missão de dirigir a opinião pública não cessam, sob qualquer pretexto, de espalhar a blasfêmia e de desprezar tudo o que há de mais respei-tável e de mais sagrado.
Essa obra sectária produzia seus frutos. Mas é verossímil que foi a ignóbil profanação da Sexta-Feira Santa, 28 de março de 1902 que provocou a cólera de Deus.
Apoiada pelo testemunho de um dos habitantes da Martinica, essa notícia apareceu sob o título “Cristo no vulcão”, no dia 5 de setembro de 1902, num dos maiores jornais parisienses:

No dia 28 de março último: Sexta-Feira Santa. Nossa alegre cidade colonial se desperta nessa manhã tão calma, tão cheia de frescor, característica das manhãs tropicais. Atrás das varandas entre-abertas, se pode perceber as donas-de-casa que se apressam a pôr tudo em ordem a fim de se dirigi-rem às igrejas. O sol se levanta docemente no horizonte. A hora do almoço chega e cada um vai rom-per o jejum, mas somente com um leve prato “à moda crioula”: bacalhau com arroz. Entretanto, um grupo barulhento se dirige para um dos principais hotéis da cidade onde uma festa está preparada. São os representantes do livre-pensamento, que, para provar sua independência de espírito, vão co-mer com fanfarronada os alimentos mais gordos que eles podem inventar, para se contrapor assim à abstinência universal. Numerosas garrafas são abertas e rapidamente esvaziadas; e, quando esse bando diabólico está suficientemente embriagado, ele se põe a percorrer as ruas da pequena capital a vociferar nomes imundos e a ridicularizar a imagem de Cristo que eles trouxeram consigo.
Ei-los em pouco tempo fora da cidade, no caminho que leva à montanha. Diante deles, a monta-nha se eleva majestosa, destacando o seu cume recortado sobre o azul do céu, e catorze vezes, no meio de blasfêmias infames, esse grupo para, fazendo estações para parodiar a Via-Sacra e desprezar as cenas da Paixão que a Igreja canta nesse momento de maneira tão dolorosa. Eles sobem, sobem, cada vez mais agitados, inventando a cada passo as mais horríveis blasfêmias. Por fim, ei-los no cu-me... Eles contornam o lago de águas tranquilas, chegam junto à boca escancarada do vulcão e lá, no meio de uma dança infernal, uivando e gesticulando, eles precipitam no fundo do abismo a imagem daquele que, há dezenove séculos morreu na cruz para resgatar as almas desses criminosos. No dia da Ascensão, entre os estertores dos mortos e gritos de espanto, o vulcão respondia aos que tinham insultado Jesus Cristo, fazendo a cruz subir de novo aos céus.
Com efeito, nesse ano de 1902, a quinta-feira 8 de maio caía no dia da Ascensão... Acaso?
Evidentemente, os livre-pensadores não tinham nenhum interesse em que esta história fosse conhecida. Ela foi considerada como uma fábula, uma invenção dos católicos e, hoje, ela nunca é citada.
Verdade ou Fantasia?
Esse triste acontecimento foi autentificado por Melânia, a menina que viu Nossa Senhora em La Salette, à qual o pe. Combe interrogará a respeito dessa catástrofe.
_ A senhora já sabia há muito tempo que essa catástrofe aconteceria?
_ Sim [respondeu Melânia].
_ Sabia disso através da aparição de 1846?
_ Não [respondeu ela].
É necessário arrancar-lhe tudo [retoma o pe. Combe], e ainda assim ela só responde com um sim ou com um não.
_ Você viu a erupção. Então, fale.
_ Ah, padre, eu estava no meio dela.
Na sexta-feira 16 de maio de 1902, o pe. Combe escreve :
Eu percebi, embaixo de seu fogareiro, entre os papéis para queimar, uma carta de anúncio de fa-lecimento de Madame X, viúva, no verso da qual Melânia tinha escrito no tempo futuro os próximos castigos que se abateriam sobre a Martinica:
“Nós não o roubamos, mas o compramos e o arrancamos da mão de Deus. Ele não vai se con-tentar de advertir uma só vez suas amadas criaturas que Ele tanto ama, nem duas, e mesmo quando sua justiça pede à sua glória para vingar à sua misericórdia ultrajada, esse bom Divino Mestre adverte, mas como que ocultando isto à sua justiça. Ele faz sentir docemente alguns tremores de terra inco-muns. É assim que ele vai fazer nessas pequenas Antilhas Francesas. Durante mais de seis dias, ha-verá pequenos tremores intercalados por outros um pouco maiores. Mas ai!, os homens têm ouvidos mas não ouvem. Por fim, no dia 8 de maio de 1902, o fogo devorador cai sobre uma das principais ci-dades da Martinica: São Pedro, a devora e a cobre de cinzas e de ruínas de toda espécie. Além da destruição dessa cidade, três outros lugares serão atingidos pelo mesmo fogo com vítimas, sem contar os danos nas propriedades. O fogo não se terá acalmado inteiramente na sua caverna. 12 dias depois do primeiro cataclisma, Fort-de-France chorará e muitos outros chorarão também”
_ Esta meditação, a senhora a escreveu no dia 8, antes da erupção [lhe pergunta o pe. Combe]? Até aqui só a cidade de São Pedro foi destruída, já se fala de 30.000 vítimas.
_ Há 40.000 [responde Melânia].
_ Como a senhora viu por antecipação a destruição de são Pedro, poderia me dizer o nome des-ses lugares que terão a mesma sorte? [pergunta o pe. Combe].
_ Curbet ou Curba, é um nome mais ou menos assim [responde Melânia].
Por ocasião de uma nova catástrofe que causou mil vítimas, os jornais (Le Pèlerin de 14 de setembro de 1902) deram para a catástrofe de maio, depois de uma pesquisa feita nos lugares atingidos, a cifra de 40.000 mortos.
No dia 22 de maio, o pe. Combe anota:
Eu desejava uma previsão cuja anterioridade fosse para mim materialmente certa, e eis que eu fui atendido. Notícia chegada nessa manhã: “Cabogramas oficiais sobre a erupção dos dias 19 e 20 de maio são bem sucintos, mas já se sabe que uma vila: Le Carbet, situada sobre a costa a alguns quilô-metros de São Pedro, foi parcialmente destruída”.
Eu lhe perguntei: _ Que crimes espantosos, além da impureza, puderam atrair, sobre essas popu-lações, consideradas muito católicas, semelhante tragédia?
Ela me contou que, “na última Sexta-Feira Santa, um grande crucifixo de mais de um metro foi ar-rastado nas ruas de São Pedro com uma corda, e em seguida na subida de uma montanha e, chegado junto a uma cratera, foi precipitado lá dentro”.
_ Para atrair a maldição de Deus sobre todo o lugar, esse sacrilégio foi, portanto perpetrado por uma multidão de homens e mulheres? [pergunta o pe. Combe].
_ Não, somente alguns [explicou Melânia], no entanto se lhes deixou agir e uma dúzia de meninos os seguia. A montanha rachou no mesmo lado na manhã da Ascensão. Como Deus pode punir dessa maneira? Considere. É a justiça? Nos tempos de verdadeira fé houve também profanações. A diferen-ça é que as profanações eram denunciadas, e alguns foram pesadamente condenados pelo poder civil; outros foram castigados de maneira miraculosa. No caso da Martinica, a profanação foi pública, se dei-xou fazer; os meninos seguiam; entre a Sexta-Feira Santa e a quinta feira da Ascensão ouviu-se dizer que foram feitas preces de reparação ou que o clero organizou procissões, penitências públicas que te-riam desarmado a cólera de Deus? (ver: “A Aparição da Santíssima Virgem”, de M. H. Bourgeois – cassette audio nº 4b)
Depois da destruição de São Pedro, foram necessários dois dias até que se pudesse por os pés sobre a cinza fervente que cobria o solo da cidade destruída. (Isto torna muito difícil a sobrevivência de um prisio-neiro na sua cela, como afirmou de Cyparis, que o circo Barnum mostrou em espetáculo durante anos, como um sobrevivente de São Pedro).
Um detalhe contado por um dos primeiros que se aventuraram a entrar na cidade parece confirmar que o cataclisma foi um castigo pela impiedade.
No meio de um caos de ruínas, eles não conseguiram mais reconhecer a geografia da cidade, que lhes era, no entanto bem familiar. Por toda parte se amontoavam cadáveres carbonizados, putrefa-tos, espalhando um odor insuportável que viciava a atmosfera... Na catedral, um confessionário ficou lá em pé, intacto. Perto dali, num pedaço de parede, um cartaz tinha sido apenas lambido pelas chamas enquanto que outros tinham sido completamente carbonizados:
“Jesus Cristo no pelourinho! A Virgem na estrebaria!”, dizia a espantosa inscrição, pois o espetá-culo que se oferecia aos olhares bem parecia uma resposta a esta blasfêmia.
Uma coluna 300 metros de altura permaneceu fixada no cume do vulcão durante muitos anos. Com o tempo, ela se enfraqueceu e desapareceu. À noite, ela se tornava “incandescente”, o que era impressionante. Não era isto o dedo de Deus mostrando a justiça divina: “Aquele que semeia ventos, colhe tempestade?”

No dia 16 e no dia 20 de maio, novas erupções fizeram novas vítimas: curiosos e, sobretudo ladrões que vinham como abutres para despojar os cadáveres de seus bens. Depois de 20 de maio, encontrar-se-ão mor-tos deitados sobre um saco de prataria que eles se preparavam para levar; outro foi encontrado sobre um cadáver ao qual ele parecia estar arrancando uma joia!...
A erupção do dia 20 de maio, que foi muito forte, teve um efeito sanitário. Ela sepultou os cadáveres, evitando assim o desenvolvimento de epidemias.
A última erupção devastadora foi a de 30 de agosto de 1902, que destruiu a cidade vizinha de Morne Rouge, provocando a morte de 2.000 pessoas. A igreja foi totalmente destruída, mas, no meio da ruína, os sobreviventes encontraram, um pouco enegrecida, a imagem de Nossa Senhora do Livramento, conservada milagrosamente. Ela permaneceu de pé e intacta sobre o seu pedestal que não foi abalado.
Desde então, os habitantes da Martinica fazem, no dia 30 de agosto, uma grande procissão em honra de sua padroeira.
 
Na tormenta, olhe para a estrela, invoque Maria.
Outro detalhe de São Pedro da Martinica depois da erupção.

Olhe o que a Vidente Melania de La Sallete disse sobre a catástrofe:
Eu lhe perguntei: _ Que crimes espantosos, além da impureza, puderam atrair, sobre es-sas populações, consideradas muito católicas, semelhante tragédia?
Ela me contou que, “na última Sexta-Feira Santa, um grande crucifixo de mais de um metro foi arrastado nas ruas de São Pedro com uma corda, e em seguida na subida de uma montanha e, chegado junto a uma cratera, foi precipitado lá dentro”.
_ Para atrair a maldição de Deus sobre todo o lugar, esse sacrilégio foi, portanto perpe-trado por uma multidão de homens e mulheres? [pergunta o pe. Combe].
_ Não, somente alguns [explicou Melânia], no entanto se lhes deixou agir e uma dúzia de meninos os seguia. A montanha rachou no mesmo lado na manhã da Ascensão. Como Deus pode punir dessa maneira? Considere. É a justiça? Nos tempos de verdadeira fé houve tam-bém profanações. A diferença é que as profanações eram denunciadas, e alguns foram pesa-damente condenados pelo poder civil; outros foram castigados de maneira miraculosa. No ca-so da Martinica, a profanação foi pública, se deixou fazer; os meninos seguiam; entre a Sexta-Feira Santa e a quinta feira da Ascensão ouviu-se dizer que foram feitas preces de reparação ou que o clero organizou procissões, penitências públicas que teriam desarmado a cólera de Deus? (ver: “A Aparição da Santíssima Virgem”, de M. H. Bourgeois – cassette audio nº 4b)
 

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